sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Lançamento do Filme: O Veneno está na Mesa

O Comitê Sergipano contra os Agrotóxicos e pela Vida vem fazer o convite para mais uma atividade aqui na região metropolitana de Aracaju.

LANÇAMENTO DO FILME: "O VENENO ESTÁ NA MESA" DO DIRETOR SILVIO TENDLER

Data: 01/12/11

Local: Auditório do IFS (Antigo Cefet), na Av. Gentil Tavares, 1166, Bairro Getúlio Vargas

Horário: 19h

Realização: FEAB, ABEEF, ENEBIO, DENEM, JUCA, EVA, LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE, MST, MOPS, MPA E ASSEMBLÉIA POPULAR

Sinopse: O filme-documentário aborda como a chamada Revolução Verde do pós-guerra acabou com a herança da agricultura tradicional. No lugar, implantou um modelo que ameaça a fertilidade do solo, os mananciais de água e a biodiversidade, contaminando pessoas e o ar. Nós somos as grandes vítimas dessa triste realidade, já que o Brasil é o país do mundo que mais consome os venenos: são 5,2 litros/ano por habitante. Apesar do quadro negativo, o filme aponta pequenas iniciativas em defesa de um outro modelo de produção agrícola. Este é o caso de Adonai, um jovem agricultor que individualmente faz questão de plantar o milho sem veneno, enfrentando inclusive programas de financiamento do governo que tem como condição o uso desses agrotóxicos. No Brasil, há incentivo fiscal para quem utiliza agrotóxicos, gerando uma contradição entre a saúde da população e a economia do país, com privilégio da segunda.



Participem e ajudem a divulgar!


Trecho do Cordel sobre os Agrotóxicos:
Necessário pra esse intento
É a mobilização:
Venha fazer movimento!
Botar o mundo em ação!
Gente junta é o fermento
Pra mudar esse momento,
Construir outra Nação!”



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

CNA e a Bancada Ruralista no contra-ataque


Notícias CNA


Presidente da CNA pede ao ministro da Saúde agilidade no processo de liberação de agroquímicos

Wenderson Araujo
A presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu, pediu nesta terça-feira (18/10) ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, agilidade no processo de liberação de agroquímicos, cuja análise é feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), subordinada ao Ministério da Saúde.  O registro de um novo agroquímico leva, em média, sete anos para ser aprovado. “Essa morosidade é insuportável para o setor agropecuário”, afirmou. Esse prazo, considerado muito longo, gera impactos diretos no custo da produção agropecuária. Só no caso do algodão, os defensivos representam 50% do custo de produção. “Quanto mais defensivos melhor, porque a tendência é os preços caírem em função do aumento da oferta”, afirmou a senadora Kátia Abreu.
Um dos motivos apontados pela CNA para a demora no registro de agroquímicos é a falta de técnicos suficientes para atender à demanda das empresas na Anvisa. De acordo com a senadora Kátia Abreu, 850 técnicos trabalham nesse tipo de análise nos Estados Unidos. Na Anvisa, 23 pessoas avaliam os pedidos de liberação. A senadora Kátia Abreu explicou que, até agora, foram concluídos 253 processos de registros. Outros 139 estão em análise e 239 estão esperando para ser analisados. O pedido de registro desses agroquímicos é feita depois de anos de pesquisas, que custam entre US$ 12 milhões e US$ 20 milhões.
Outro problema lembrado pela presidente da CNA, durante a audiência com o ministro da Saúde, é a demora das empresas em iniciar o processo de produção e comercialização de novos agroquímicos após a liberação do registro dos produtos. Por esse motivo, informou ao ministro Alexandre Padilha que apresentou um projeto no Senado estabelecendo prazo de dois anos para o início da produção e da comercialização dos agroquímicos, com a finalidade de garantir maior rapidez na oferta dos produtos aprovados pela ANVISA.
A senadora Kátia Abreu também destacou a necessidade de maior rapidez na liberação de defensivos para hortifrutigranjeiros. A Anvisa avalia 10 pedidos de liberação de agroquímicos específicos para frutas e hortaliças. “Esse é um mercado pequeno e de produtos de valor mais baixo. As empresas têm pouco interesse na pesquisa e no registro de produtos direcionados para essas culturas”, afirmou a presidente da CNA. Explicou que, nesse caso, os produtores têm duas alternativas. A primeira é usar agroquímicos de alto custo, o que encarece o preço final dos alimentos. A segunda é usar, nessas lavouras, produtos liberados para outras culturas, prática que pode prejudicar as exportações brasileiras, pois resíduos de um determinado agroquímico podem ser encontrados em produtos para os quais essas substâncias não foram liberadas.
A presidente da CNA também pediu ao ministro da Saúde que sejam implementadas todas as regras previstas em uma instrução normativa publicada em janeiro de 2010, que permite o uso de defensivos já registrados para uma cultura em outra, desde que as culturas sejam compatíveis. A instrução normativa foi elaborada pela Anvisa, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e  Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Defendeu, ainda, a necessária “transparência” no processo de reavaliação dos processos de liberação de agroquímicos, prerrogativa permitida à Anvisa. Um dos produtos que está em processo de reavaliação é o glifosato. “Não há nenhum problema em reavaliar, mas esse processo precisa ser transparente”, afirmou a senadora. Para a presidente da CNA, especialistas das universidades deveriam participar da etapa de reavaliação dos processos de iberação dos agroquímicos. Padilha disse que vai conversar com a ANVISA sobre essa solicitação e avaliar as demais demandas.
SENAR – A senadora Kátia Abreu também apresentou ao ministro da Saúde as ações de promoção social desenvolvidas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) em benefício das famílias rurais. Na audiência, a presidente do Sistema CNA/SENAR destacou o programa Útero é Vida, que proporciona à mulher rural o acesso ao exame Papanicolau, de prevenção do câncer do colo do útero. Nos eventos que desenvolve nas áreas rurais, o SENAR assume os custos dos exames laboratoriais e de alimentação, garante o transporte e a participação dos técnicos nas ações.  A presidente da CNA afirmou que o Sistema CNA/SENAR pode atuar junto com o Governo federal no processo de desenvolvimento destas ações sociais.
Assessoria de Comunicação CNA
Telefone: (61) 2109 1411/1419
www.canaldoprodutor.com.br      

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Comissão de Agricultura da Câmara: Relator é contra tornar venda ilegal de agrotóxicos crime hediondo


O deputado Reinaldo Azambuja (PSDB-MS) apresentou parecer pedindo a rejeição da proposta (PL 1811/11) que inclui na lista de crimes hediondos a produção, a comercialização, o transporte e a destinação de agrotóxicos em descumprimento às exigências legais. Azambuja é relator do texto na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural.
O projeto, do deputado Amauri Teixeira (PT-BA), prevê dois anos de prisão em regime inicialmente fechado, além de multa, para quem descumprir as normas sobre agrotóxicos. Para o relator, no entanto, não é justo uma pena tão rigorosa principalmente para o produtor que manipula a substância. Na opinião dele, a Lei 7.802/89, que disciplina o setor, já estabelece sanções satisfatórias. “Não cabe ao projeto criar novas regras, pois a legislação em vigor já apresenta punições pertinentes para quem descumprir a norma”, disse.
Por sua vez, o deputado Jesus Rodrigues (PT-PI), que apresentou voto em separado, defende que o consumo de agrotóxicos no País é alarmante e deve ser mais controlado. Ele informou que cada brasileiro consome passivamente 7 litros de defensivos por ano. “A vontade do legislador é de maneira nenhuma criminalizar a produção correta e adequada. Precisamos é que essa produção cumpra um conjunto de regras que são hoje estabelecidas e, daí, sua aplicação seja corretamente acompanhada”, argumentou.
A proposta que transforma em crime hediondo a produção e o uso de agrotóxicos fora dos padrões estabelecidos em lei será analisada também pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). Se aprovada, seguirá para o Plenário.
Íntegra da proposta: PL-1811/2011


Matéria da Agência Câmara de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 17/10/2011

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Seminário Territorial - Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida


Seminário Territorial
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida

Local: Centro Ana Patrícia – Lagoa Redonda/Porto da Folha
Data: 07 de Outubro de 2011
Horário: 8:00 às 16:30h

PROGRAMAÇÃO
Às 8:00h – Acolhida e mística de Abertura
Às 9:00h – Histórico e atualidade da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida
Às 09:30h – O atual modelo de desenvolvimento da agricultura e as causas e conseqüências do uso dos agrotóxicos
Às 10:30h – Filme: O Veneno está na mesa
Às 11:30h – Debate em plenária
Às 12:30h – Almoço
Às 14:00h - A agroecologia como alternativa ao atual modelo de desenvolvimento
Às 15:00h – A tarefa das instituições publicas, organizações e movimentos sociais na campanha
                   - Encaminhamentos (proposta de planejamento e formação do comitê territorial)
Às 16:00h – Avaliação do seminário e encerramento




“Agronegócio só traz pobreza
Queremos para o mundo
Agricultura camponesa!”


“Quem Somos? Camponeses!
O que queremos?
Terra, trabalho e Justiça!”

CONVITE

À 
Prezados\as Companheiros\as,

Em 2010 o MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores lançou no seu III Encontro Nacional a CAMPANHA PERMANENTE CONTRA OS AGROTÓXICOS EM DEFESA DA VIDA, posteriormente a campanha foi assumida pela Via Campesina e Assembléia Popular se transformando hoje em uma importante bandeira de luta para o povo do campo e da cidade.
Durante toda sua existência o MPA tem defendido vida digna e de qualidade para os camponeses e camponesas, bem como para toda a sociedade brasileira a partir do respeito à natureza e da preservação ambiental. Porem o atual modelo de desenvolvimento nos impossibilita essa condição de vida. O uso intensivo de agrotóxicos tem levado à contaminação do solo, da água, do ar e dos alimentos, causando profundos desequilíbrios nos ecossistemas, e prejudicando a saúde humana. Crescem a cada dia registros de intoxicações e mortes ligadas ao uso dos agrovenenos, que freqüentemente afetam trabalhadores agrícolas, a população camponesa e urbana, que consomem alimentos com resíduos de agrotóxicos.
O Brasil é hoje o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Segundo dados do Sindicato Nacional para Produtos de Defesa Agrícola (Sindage), em 2008 o nosso país ultrapassou a marca dos 700 milhões de litros de agrotóxicos legalmente comercializados.  Em 2009, esse número subiu para 1 bilhão. Ainda na safra de 2008/2009, foram vendidos 7,125 bilhões de  dólares  em  agrotóxicos. O uso dos agrovenenos no Brasil é tão intenso que, fazendo uma distribuição da quantidade de veneno utilizado no ano de 2009 por habitante no país chega à média de 5,2 litros de agrotóxicos ao longo do ano.
Considerando esse contexto e a necessidade de fortalecer a Campanha no Estado de Sergipe, o MPA juntamente com os demais instituições publicas, movimentos e organizações sociais que compõem o Colegiado do Território da Cidadania do Alto Sertão Sergipano e a Assembléia Popular realizará no dia 07 de outubro do corrente ano, no horário das 8:00h às 16:30h no Centro de Formação Territorial Ana Patrícia (localizado no Povoado Lagoa Redonda \ Porto da Folha) Seminário que terá como objetivo discutir: o atual modelo de desenvolvimento, a problemática dos agrotóxicos, a agroecologia como alternativa a esse modelo de desenvolvimento e a proposta de formação do comitê territorial da Campanha. Em anexo segue programação.
Para tanto, gostaríamos de contar com vosso comprometimento nessa luta e no referido seminário, bem como no apoio ao processo de articulação e mobilização do nosso povo para se fazer presente.

Atenciosamente,

HAROLDO JOSÉ DA SILVA
Direção Estadual do MPA

domingo, 18 de setembro de 2011

Brasil é a nação que mais consome agrotóxicos


Por Gustavo Colares
Do Centro de Estudos de
Geografia do Trabalho - UNESP


O Brasil acostumou-se a vitórias e conquistas no Esporte que dão orgulho a qualquer cidadão brasileiro. Desde 2008, porém, o País é dono de um título nada honroso para quem, já na próxima década, deve ocupar a cadeira da 5ª maior economia do planeta. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), somos a nação que mais consome agrotóxicos e fertilizantes químicos no mundo. É mais de um milhão de toneladas por ano.

Por trás do aquecimento de nossa economia, em que as commodities ocupam lugar de destaque no saldo da balança comercial brasileira, uma realidade nem sempre tangível pelas autoridades: o uso sem medida de agrotóxicos por grandes grupos empresariais e também pequenos agricultores, às vezes esquecidos pelos órgãos que deveriam oferecer capacitação técnica. É o que denunciam ativistas ambientais e pesquisadores como a professora Raquel Rigotto, do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.

Ela coordena o Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para a Sustentabilidade (Tramas), grupo de pesquisa com forte atuação científica e engajada em municípios do interior cearense que recebem grandes empreendimentos industriais. Não foi à toa que o Tramas se envolveu ativamente em estudo sobre os danos da utilização intermitente de agrotóxicos na saúde de trabalhadores e no meio ambiente, depois que José Maria Filho, um dos principais críticos de Limoeiro do Norte ao modelo do agronegócio da Chapada do Apodi, foi morto com 19 tiros nas proximidades do aeroporto de onde saem os aviões para a pulverização dos bananais da região.

Em 2009, Rigotto foi interpelada judicialmente por uma indústria fabricante de fertilizantes, de Maracanaú, por comprovar, numa pesquisa, os males causados à saúde de uma comunidade em virtude da negligência da gestão da empresa em seu sistema de ventilação e exaustão. O apoio das instituições acadêmicas à pesquisadora não tardaria. A Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, o Conselho Nacional de Saúde, o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará, a Conferência Estadual de Saúde Ambiental e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, entre outras entidades, se manifestaram publicamente em defesa do saber científico.

A seguir, o leitor conhecerá uma ciência comprometida, sem deixar de lado o rigor da produção de conhecimento. Uma ciência transdisciplinar que encontra as classes sociais mais vulneráveis, procura reaprender os tradicionais saberes construídos e reconhece a interdependência entre a Natureza e os seres vivos. Para Raquel Rigotto, um compromisso pela construção de uma sociedade de fato sustentável, que prima pela justiça socioambiental.

Segundo a FAO, o Brasil é o maior consumidor no mundo de fertilizantes químicos. Quantas toneladas de agrotóxicos o brasileiro consome anualmente e onde o Ceará se encaixa nessa realidade?


Raquel Rigotto – O Brasil é o campeão mundial de consumo de agrotóxicos desde 2008. Naquele ano, foram 673 mil toneladas consumidas, mas em 2010 ultrapassamos a casa de 1 milhão de toneladas. Esses dados de 2008 mostram que em torno de 350 mil toneladas são para o cultivo da soja, em torno de 100 mil toneladas são do cultivo de milho e 50 mil toneladas destinam-se às plantações de cana, para o etanol. Só nesses três monocultivos, que são commodities importantes dentro do atual modelo de modernização agrícola e desenvolvimento no campo, nós já temos mais de 70% desse volume de agrotóxicos consumido no País. No Brasil, há mais de mil produtos comerciais de agrotóxicos diferentes, que são elaborados a partir de 450 ingredientes ativos, aproximadamente. O Ceará apareceu no Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2006 como o quarto estado brasileiro em número de estabelecimentos que utilizam agrotóxicos, o que é diferente de ser o quarto que mais consome. Agora, não temos dados muito precisos porque a obrigação do controle, do fluxo de agrotóxicos em cada estado, de acordo com a lei federal, cabe ao órgão estadual de meio ambiente e de agricultura.

E aqui, no Ceará, infelizmente, não estamos tendo esse controle. O que se tem é um cadastro dos produtos que são autorizados de serem vendidos e dos estabelecimentos comerciais autorizados, mas não um controle anual ou trimestral do consumo, das vendas, da circulação, de onde está sendo usado, os implicativos e em quais cultivos. Isso, do ponto de vista da saúde, é lamentável. Faltam informações até mesmo sobre em que capacitar os profissionais de saúde, porque cada produto tem a sua nocividade.

Foi por causa disso que decidimos buscar algum tipo de informação na Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará, pensando que, pela taxação, poderia haver, pelo menos, uma informação de volume. Lá conseguimos algo mais grave: descobrir que no Ceará os agrotóxicos são isentos de impostos. Há uma legislação federal que reduz esse imposto a 60%, mas os estados podem ampliar esse “benefício” às empresas.

Quando se fala em isenção fiscal, lembramos do lobby das empresas (fabricantes e das que utilizam agrotóxicos) junto a parlamentares e governos. Como combater isso?

RR – É importante compreendermos que os agrotóxicos hoje se caracterizam como problema de saúde pública, exatamente porque eles são a expressão de um modelo de desenvolvimento para o campo baseado numa agricultura empresarial, tecnificada, centrada no monocultivo em grande escala, voltado para a exportação e químico-dependente, no que diz respeitos aos fertilizantes e agrotóxicos. Trata-se de mostrar que os agrotóxicos não são apenas um risco químico que deve ser controlado, mas que eles são parte da lógica de um modelo de desenvolvimento que precisa ser, pelo menos, explicitado para a população.

E também é necessário “desocultar” os danos desse modelo, porque ele é apresentado como o que tem alta produtividade, aquele que vai resolver o problema da fome – e hoje se fala com a boca cheia em segurança alimentar, quando na verdade estão sendo produzidos commodities, e não alimentos para a população –; e também compreender os impactos que geram para o meio ambiente e para a saúde. No caso do meio ambiente, há contaminação das águas, por exemplo.

Nesse sentido, o Núcleo Tramas realizou um estudo na Chapada do Apodi, na região do Baixo Jaguaribe.

RR – Colhemos 23 amostras de água, tanto superficiais quanto profundas e subterrâneas do Aquífero Jandaíra, como também a água que abastece as casas das comunidades. E, infelizmente, não encontramos nenhuma amostra sem agrotóxico – as análises foram feitas pelo Departamento de Química Orgânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) também fez análise de águas lá. Ela colheu dez amostras de água do Aquífero apenas, mas seis delas estavam contaminadas; 60% de um aquífero que se estende de Limoeiro do Norte até quase Touros, no Rio Grande do Norte. Essa contaminação da água é muito grave.

José Maria Filho, um dos principais críticos do agronegócio jaguaribano, foi morto com 19 tiros nas proximidades do aeroporto de onde saem os aviões para a pulverização dos bananais da região.


RR – De fato, outra questão é a pulverização aérea, que culminou com o assassinato do Zé Maria, liderança do Tomé, de Limoeiro do Norte. A pulverização aérea, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), apresenta uma deriva técnica própria. Por exemplo, 32% do que é pulverizado adere às folhas do cultivo a que se destina, 49% cai no solo e os 19% restantes permanecem no ar, que vai para o que está em volta, dependendo da direção e da velocidade dos ventos, da temperatura, de uma série de fatores. Quando você vê o mapa da Chapada do Apodi, verá uma contiguidade entre empresas de monocultivo de frutas para exportação e comunidades que estão lá há muito tempo. Então, a contaminação pelo ar dessas comunidades leva a muitas queixas, como problemas respiratórios, dermatológicos e até aborto.

Roberta Traspadini – Agrotóxico: o veneno produtor de doenças no Brasil

A campanha contra os agrotóxicos ganha a dimensão real de superação do que temos, a partir da construção do projeto popular para o Brasil que queremos

23/08/2011
Roberta Traspadini

A campanha contra o agrotóxico e pela vida protagonizada pela Via Campesina e demais movimentos sociais articulados da cidade traz, para a sociedade brasileira, dois debates históricos centrais:

1) a produção e o consumo de venenos no Brasil;

2) o modelo de desenvolvimento econômico-social-político (inter)nacional e seu caráter estrutural de disseminação de doenças para a sociedade em geral, mas especialmente para a classe trabalhadora. Sobre a produção de alimentos:

Dados do IBGE relatam que a agricultura familiar e camponesa no Brasil soma quase 85% das propriedades agrícolas do país, ocupando, contraditoriamente, apenas 24% do espaço.

Em suas terras trabalham aproximadamente 12,5 milhões de pessoas o que corresponde a 74,5% do total dos trabalhadores do campo. Destas propriedades saem quase 70% dos alimentos consumidos pelas famílias brasileiras diariamente.

Mas, de forma cada vez mais intensa, a produção familiar-camponesa está subordinada e condicionada à lógica imperante do modelo agrário imperialista no território. Por um lado, esta produção se divide entre a matriz da agroindústria e a subordinação à matriz tecnológica da revolução verde, consumidora de insumos industriais.

Por outro lado, o agronegócio – aliança entre os grandes proprietários de terra, o capital financeiro e as empresas transnacionais – dita as regras no campo brasileiro, cujo objetivo é a produção de commodities para a exportação.

Com a venda de 1 bilhão de litros de veneno na última safra, as empresas estrangeiras se apropriam de cerca de 80% do lucro gerado pela produção de veneno, com destaque para a concentração do poder econômico da Syngenta, Bayer, Basf, Dupont, Monsanto, Shell Química.

O modelo de desenvolvimento dependente
A característica marcante do capital imperialista no século XXI é sua capacidade de metamorfosear-se para ganhar, de forma extraordinária, em cada uma das áreas em que atua e com isto tentar, de maneira permanente, conter as crises que são inerentes ao seu modo de operar. Capital comercial, capital bancário, capital industrial, são algumas dessas faces do mesmo capital.

Além de vender veneno para o campo para a produção de alimentos para o povo brasileiro, o capital produtivo do veneno associa-se, como capital bancário, às regras legais do Estado que, em sua forma de financiar a agricultura familiar-camponesa, atrela o crédito a uma série de condicionantes centradas na compra destes bens.

O dinheiro emprestado na forma de crédito torna-se irmão siamês do capital por dois motivos:

1) o agronegócio não consegue produzir sem a injeção de R$ 107 bilhões por ano, para tirar R$ 150 bilhões da venda de mercadorias.

2) o principal objeto desta aliança de capitais é o de transformar tudo em mercadoria para obtenção de lucro, na forma de insumos industriais produzidos pelas empresas transnacionais, como o exemplo do veneno.

Isto não é diferente do que acontece com o capital industrial, que transforma praticamente todos os elementos da vida em valores de troca. Assim, saúde, terra, educação, trabalho, vão ganhando um destaque na compra e venda do comércio ditado pelo grande capital. E a propaganda de “naturalização” do modelo ganha corpo e evidência, ainda em meio às mais perversas situações vividas no cotidiano pelo povo brasileiro.

O aumento progressivo de doenças como o câncer em todas as faixas etárias, traz à luz um debate central manifesto na campanha contra o agrotóxico e pela vida que devem ser consideradas, tanto no debate quanto na (re)ação necessária à luta contra a vida envenenada.

O câncer como uma doença “naturalizada”
Segundo A União Internacional Contra o Câncer, mais de 160 mil crianças no mundo são diagnosticadas com a doença a cada ano. 80% destas crianças vivem em países em desenvolvimento. Enquanto 3 entre 4 crianças têm chances de sobreviver após 5 anos de tratamento, estima-se que nos países em desenvolvimento, mais da metade das crianças têm probabilidade de morrer. Somente nos EUA a incidência anual é de 7 mil novos casos por ano.

No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INC), define esta doença como uma das primeiras causas de morte entre crianças e jovens de 0 a 19 anos, só perdendo para violências e crimes.

A estimativa do INC do total de pessoas com câncer no País foi de 490 mil casos. 237 mil homens, 253 mil mulheres afetados com a doença.

Deste grupo, existem de 12 a 13 mil crianças acometidas com câncer, fora os que têm a doença, mas não são diagnosticados e morrem.

Outro destaque importante do estudo é a diferença entre as regiões, a partir do grupo de idade e sua média em relação à nacional.

Observemos didaticamente:

Josué de Castro e sua atualidade:
Em 1946, Josué de Castro, um médico comprometido com a vida e contrário ao veneno já defendia que a fome enquanto fenômeno social e histórico era um tabu rentável no Brasil e no mundo. Quase um século depois, vemos a complexidade do problema, pois, não só não dormem os que comem bem, com medo dos que não comem.

Parte expressiva dos que comem – mal -, não dorme porque suas enfermidades físicas, fruto do histórico processo de desenvolvimento econômico envenenado no campo e na cidade, trazem dores e consequências múltiplas para eles e para os que cuidam deles.

Enquanto isto, o Estado entrega ao capital a responsabilidade de cuidar da saúde de seu povo. É isto o que representa os 3,91% do orçamento destinado à saúde em 2010. Uma associação – via parceria público-privada – entre o Estado e o grande capital para tentar curar de forma mercantil, aquilo que ele foi sócio na produção (uso de veneno).

A campanha contra os agrotóxicos é um processo permanente de vinculação entre o campo e a cidade. Seu ponto de partida é o de relatar como se produz alimento que comemos enquanto trabalhadores brasileiros. Mas vai além e ganha, no processo pela vida e contra o veneno, a dimensão real de superação do que temos, a partir da construção do projeto popular para o Brasil que queremos.

Roberta Traspadini é economista, educadora popular, integrante da consulta popular/ES.

A Cineasta francesa,Marie-Monique Robin lança seu novo filme" O veneno nosso de cada dia" na Fiocruz


por Alan Tygel

No auditório lotado da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, na Fiocruz, a diretora de “O Mundo Segundo a Monsanto”, Marie-Monique Robin lançou no dia 12/09 seu mais novo filme: “O veneno nosso de cada dia”. Desta vez, ela tentou devendar como são calculados os valores de IDA – Ingestão Diária Aceitável – para diversos produtos como agrotóxicos, resíduos de plásticos e o aspartame.

O evento contou ainda com a presença do diretor Sílvio Tendler, cujo mais novo documentário – O veneno está na mesa – fora exibido no mesmo local dias atrás. Ambas exibições fazem parte do Ciclo de debates sobre a Rio+20 : quem sustenta o desenvolvimento sustentável?, cujo objetivo é preparar a Fiocruz para um posicionamento institucional em relação ao encontro que ocorrerá no ano que vem.


A Ingestão diária aceitável – IDA – é um valor numérico, medido em mg/kg, que determina a quantidade que se pode consumir de uma substância durante todos os dias, com segurança, por toda a vida.[1] Na prática, para os agrotóxicos por exemplo, determina qual limite máximo de resíduo aceitável em um alimento. Era de se esperar que este índice fosse calculado com um alto grau de rigor científico, para que em nenhum momento colocasse a vida dos consumidores em risco.

Mas Marie-Monique nos mostra justamente o contrário. No mesmo estilo investigador de “O Mundo Segundo a Monsanto”, a diretora percorre centros de pesquisa e agências reguladoras em vários países tentando descobrir como este índice é definido. E ela não deixa dúvidas: através de estudos científicos pagos pelas empresas, e com a ajuda diretores de agências reguladoras com ligações com a indústria, os próprios fabricantes das susbstâncias é que definem o nível aceitável.

Após a exibição do filme, Marie-Monique disse que o filme foi como uma continuação de “O Mundo segundo a Monsanto”. O trabalho de pesquisa impecável fez com que a gigante multinacional não movesse sequer um processo contra ela. Nada foi dito sem que houvesse comprovação. E da mesma forma foi feito em “O veneno nosso de cada dia”, que acompanha um livro de 400 páginas. O objetivo é mostrar que a Monsanto não é uma exceção: diversas outras multinacionais utilizam os mesmos métodos – tráfico de influência, corrupção, fraude científica – para lucrar às custas da vida da população.

Ela revelou ainda que apenas 10% das substâncias que estão presentes no nosso dia-a-dia foram testadas. E mesmo assim, esses testes sempre foram feitos com forte influência dos fabricantes. Representantes da indústria química chegaram a dizer que seu “o livro envenena a indústria química”. De fato, a análise incomoda tanto a indústria quanto as agências reguladoras. Uma das grandes dificuldades, segundo ela, foi conseguir que estes representantes falassem. Foram mais de 100 contactados, e apenas 16 falaram.

O caso da EFSA, agência européia, foi o mais emblemático. Após várias tentativas negadas, ela ameaçou dizer no filme que agência havia se recusado a falar. Então eles aceitaram, mas se prepararam bem: passaram “O Mundo Segundo a Monsanto” para todos os funcionários, para que se preparassem para o tipo de pergunta. E durante a sua visita, foi seguida de perto por vários seguranças, que filmaram todos os seus passos. Mesmo assim, o representante entrevistado fica mudo quando ela mostra, através de documentos da própria EFSA, a fragilidade científica sob a qual é baseado o IDA. Já a Organização Mundial da Saúde, órgão da ONU, respondeu simplesmente: “É o melhor que podemos fazer.”

O mecanismo mais comum utilizado pelas empresas para travar os processos de regulação são os estudo científicos feitos para assegurar que um determinado produto é seguro. Assim que surge um estudo independente dizendo que uma substância é nociva, a empresa lança outro contestando, e com isso o processo de regulação fica paralisado. Num dos casos analisados pelo filme, havia mais de 100 estudos sobre uma substância: metade deles, financiados pelo fabricante, dizia que era seguro; a outra metade, de cientistas independentes, dizia que era perigoso.

A batalha que hoje travamos contra os agrotóxicos ou contra o aspartame já teve casos semelhantes de sucesso no passado. Amianto, chumbo na gasolina, benzeno e DDT são alguns dos exemplos de substâncias que a indústria conseguiu, através de mentiras científicas, segurar por anos no mercado. E hoje, mesmo proibidas, ainda causam problemas no meio ambiente e nas pessoas contaminadas.

Marie-Monique completa: “O sistema trabalha com a ideologia do progresso. O problema é que este progresso tem um custo para a saúde e para o ambiente, e ninguém nos perguntou se estamos dispostos a pagá-lo.”

E para não terminar de forma tão trágica, a diretora já anunciou que seu próximo filme e livro será sobre a resistência agroecológica que vem se fortalecendo no mundo inteiro. E afirmou: “Gostaria muito de contar com a presença do MST, que é uma referência mundial no trabalho e na promoção da agroecologia”.